sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Violência contra a mulher - Rafael


Bueno, muchach@s, depois de um longo período sem marcar presença no blog, chego cheinho de novidades e coisas para contar, vejam só que beleza.

Lembro que na minha última postagem, enquanto relatava algum dos encontros com a turma 101, o que mais me causava preocupação era a forma como trabalharia com os estudantes o tema do seminário integrado proposto pela escolaviolência contra a mulheratravés de discussões interligadas ao meu projetoarte, padrões de beleza e conformações corpóreas. Cedo ou tarde, naturalmente ou sob pressão – “pluft” – a idéia surge como um presente dos deuses (lembrando que alguns deuses são gregos, e seus presentes conseqüentemente também podem vir a ser). Assim, montei uns slides lindos e maravilhosos falando sobre amarcha das vadias; o que seria; como se deu; e quais motivos levaram a mulherada (e rapazes) para as ruas protestando cheias de vigor e energia.




Gente, vou te contar! Acho que nunca na minha parca, modesta e magrinha experiência em sala de aula consegui prender tanto a atenção da galera e vê-los tão envolvidos com o que havia sido proposto. As imagens referentes à marcha suscitaram questões interessantíssimas sobre o corpo da mulher na sociedade. Grosso modo, muitos foram os motivos que levaram as pessoas às ruas para protestarem, mas o pontapé inicial se a partir da recomendação de um policial canadense em uma palestra, indicando que as mulheres não deveriam vestir-se como vadias, para que assim evitassem abuso sexual. Pensando na vestimenta de vadias, ninguém melhor que nossa amiga Geisy Arruda e a polêmica gerada a partir de seu vestido para complementar o assunto abordado.


Os estudantes entraram de cabeça na conversa, especialmente no que dizia respeito às mulheres seminuas nas passarelas, nas ruas, publicidade e inclusive na situaçãoglobeleza. Os estudantes foram unânimes ao colocarem que o machismo impera no nosso cotidiano e a partir disso, nossa visão sobre as mulheres acaba sendo modelada de forma que as coloque de modo inferior. Contudo, as mulheres deveriam possuir os mesmos direitos que os homens, ganhar o mesmo salário, serem reconhecidas como ser humano. Ao mesmo tempo, condenaram a atitude da estudante Geisy, afinal, uma universidade ou escola não é lugar de vestido curtoos meninos julgam que uma roupa mais curta ou decotada tira a atenção dos mesmos, e a escola/ universidade é um lugar para estudos, o que requer maior concentração.
No entanto, as passarelas, outdoors e tvs não podem ser vistas com maus olhos, pois as roupas curtas e inclusive a falta delas são de cunho profissional, estas mulheres são pagas para tal. O diálogo se deu de uma forma bastante divertida, os estudantes estavam realmente interessadosera um tema do seu cotidiano e eles queriam colocar seu ponto de vista e defende-los a partir das colocações contrárias dos colegasao mesmo tempo, os questionei constantemente sobre as suas colocações. Especialmente no que diria respeito a violência contra as mulheres a partir disso tudoquando o comportamento a partir das roupas que as mulheres costumavam usar seria motivo para gerar algum tipo de violência física ou moral.

Particularmente, adorei este encontro não pelos jovens estarem envolvidos, participativos; mas principalmente pelo fato dos estudantes terem percebido o quanto este tipo de situação (violência) está presente em seu cotidiano e como eles reagem ou percebem isso tudo, e acima de tudo, as respostas e questionamentos eram sinceroseles estavam sendo eles mesmos.
Neste dia, o rendimento do diálogo com os estudantes foi satisfatório, tanto é que nem um terço dos slides foi apresentado. Mas como tudo que é bom, dura pouco, o encontro seguinte foi um encontromornocom estudantes desinteressados. Seguindo com os slides tratando sobre a violência contra a mulher, mostrei aos jovens os trabalhos das artistas Gina Pane e Marisa Gonzálesduas artistas contemporâneas que utilizam deste mesmo tema para a elaboração de suas obrasGina através da performance e Marisa com fotografias. As imagens causaram certo estranhamento, especialmente os registros dos trabalhos da performer em função da mesma utilizar de ferimentos em seu próprio corpo para questionar o papel da mulher na sociedade. Em meio às obras mostradas, os estudantes (os interessados ao menos) questionavam sobre como o publico encarava aqueles trabalhos (pergunta devolvida no mesmo momento) e como as performances aconteciam, como os museus apresentavam para o publico, etc.


Gina Pane - Encontro com a morte. Déc. 1970.



Obra de Marisa Gonzales.


O diálogo foi curtíssimo, pois a galerinha estava ansiosa para saber como seriam os trabalhos desenvolvidos por eles, quando seriam mostrados. Mas acima de tudo, estavam mais preocupados com o período que teriam para produzi-los, alguns queriam começar naquele mesmo encontro (tanto é que mal me deixaram seguir com as imagens das obras das duas artistas).
Os estudantes foram separados em grupos e assim (alguns) iniciaram os trabalhos. Porém, os estudantes esqueceram-se completamente dasvadiase do vestido da Geisy, eles abstraíram esta parte e fixaram-se no termoviolência. A cada grupo que visitei para questionar sobre os trabalhos me pareceu que eles estavam mais empolgados com uma retratação da mulher violentada ou cartazes falando a respeito do que com o que conversamos nos encontros anteriores.

Acredito que fiz mal em não retomar o que havíamos dialogado, porém, não me senti livre para romper com o envolvimento deles em seus trabalhos, aparentemente a disciplina de artes tem uma valorização quase nula no âmbito escolar e social, e não seria eu quem ia transformar aquela proposta em mais uma poda. Além disso, acredito que a discussão gerada através das visualidades nos primeiros encontros acrescentaram muito no que diz respeito a reflexão das conformações corpóreas na sociedade contemporâneatema do projeto desenvolvido com a turma. Os estudantes então ficaram para livres para produzir a partir do seu interesse comum, quem sabe este e outros temas mais próximos de seu cotidiano possam fazer brotar um novo rumo para encontros que estão por vir.

Um comentário:

  1. Muito legal Rafa teus comentários e entusiasmo com a aula anterior e triste desapontamento com a seguinte. Mas é assim mesmo, são altos e baixos... Sobre a questão do trabalho prático eu não vejo como uma poda quando interrogamos, mediamos... creio que isso só auxilia na reflexão do que estão fazendo e faz com que a teoria e a prática não andem separadas. Senão permitimos que eles façam qualquer coisa e achamos bom.
    abraço
    marilda

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