quinta-feira, 6 de setembro de 2012

(Re) voltando...

Na aula do dia 30/08 continuamos as problematizações relacionadas à pesquisa e construção do painel. Nosso objetivo era o trabalho em conjunto e as relações possíveis...
No início os estudantes se mostraram tímidos com a proposta e até "boiando", como bem disse uma moça. Estávamos todos boiando mesmo. O desafio era não se afogar...e foi bem interessante. Logo a maioria deles entrou em sintonia, colaborando uns com os outros e envolvidos na proposta.
Avalio como uma aula bem proveitosa e possibilitadora de outras abordagens e temas, pois tive a oportunidade de dialogar individualmente em alguns momentos e com o grupo em outros momentos e até de observá-los...
 

 
Algumas meninas ajudaram a guardar o material depois do sinal. Foi cansativo, mas valeu...;)
 
Hoje,infelizmente não houve aula. Uma pena, pois utilizaríamos outros materiais no painel.
Ainda não sei como ou se daremos continuação, afinal, teremos aula só no dia 27...
 
E para contribuir com o encontro Pibid, trago um dos muitos trechos que me inspiraram tanto nos tantos descaminhos e ainda interessam demasiadamente em Clarice Lispector:
 
 
 
"----------------- estou procurando, estou procurando. Estou tentando entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. Não confio no que me aconteceu. Aconteceu-me alguma coisa que eu, pelo fato de não a saber como viver, vivi uma outra? A isso quereria chamar desorganização, e teria a segurança de me aventurar, porque saberia depois para onde voltar: para a organização anterior. A isso prefiro chamar desorganização pois não quero me confirmar no que vivi - na confirmação de mim eu perderia o mundo como eu o tinha, e sei que não tenho capacidade para outro.



Se eu me confirmar e me considerar verdadeira, estarei perdida porque não saberei onde engastar meu novo modo de ser - se eu for adiante nas minhas visões fragmentárias, o mundo inteiro terá que se transformar para eu caber nele.


Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar.

 
Estou desorganizada porque perdi o que não precisava? Nesta minha nova covardia - a covardia é o que de mais novo já me aconteceu, é a minha maior aventura, essa minha covardia é um campo tão amplo que só a grande coragem me leva a aceitá-la -, na minha nova covardia, que é como acordar de manhã na casa de um estrangeiro, não sei se terei coragem de simplesmente ir. É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo. Até agora achar-me era já ter uma idéia de pessoa e nela me engastar: nessa pessoa organizada eu me encarnava, e nem mesmo sentia o grande esforço de construção que era viver. A idéia que eu fazia de pessoa vinha de minha terceira perna, daquela que me plantava no chão. Mas e agora? estarei mais livre?

 
Não. Sei que ainda não estou sentindo livremente, que de novo penso porque tenho por objetivo achar - e que por segurança chamarei de achar o momento em que encontrar um meio de saída. Por que não tenho coragem de apenas achar um meio de entrada? Oh, sei que entrei, sim. Mas assustei-me porque não sei para onde dá essa entrada. E nunca antes eu me havia deixado levar, a menos que soubesse para o quê.


Ontem, no entanto, perdi durante horas e horas a minha montagem humana. Se tiver coragem, eu me deixarei continuar perdida. Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação.


Como é  que se explica que o meu maior medo seja exatamente em relação: a ser? e no entanto não há outro caminho. Como se explica que o meu maior medo seja exatamente o de ir vivendo o que for sendo? como é que se explica que eu não tolere ver, só porque a vida não é o que eu pensava e sim outra como se antes eu tivesse sabido o que era! Por que é que ver é uma tal desorganização?

 
 
E uma desilusão. Mas desilusão de quê? se, sem ao menos sentir, eu mal devia estar tolerando minha organização apenas construída? Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema. No entanto se deveria dizer assim: ele está muito feliz porque finalmente foi desiludido. O que eu era antes não me era bom. Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a esperança. De meu próprio mal eu havia criado um bem futuro. O medo agora é que meu novo modo não faça sentido? Mas por que não me deixo guiar pelo que for acontecendo? Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela probabilidade."

(LISPECTOR, Clarice; A Paixão Segundo G.H., 1974, RJ: Pág. 07 a 10)

http://catracalivre.folha.uol.com.br/wp-content/uploads/2010/08/apaixaosegundogh.pdf




3 comentários:

  1. Pelo que vi será um mega painel =), e legal ver fotos do processo... Pena é ter tanto tempo sem se reverem, algumas coisas poderão ficar no esquecimento, até mesmo da proposta, mas podem desencadear outras questões sobre o painel...
    Mas dia 27 retoma e dê continuidade...
    Abraço e tudo de bom...

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  2. Gli, incrível como o tempo passa e as palavras da Clarice Lispector cada vez fazem mais sentido para a nossa contemporaneidade. Acho admirável.

    Eu concordo com o Maurício, embora tenhas um longo intervalo, eu retomaria o trabalho, creio que sempre vale a pena. Inclusive para eles que conseguem ver com maior distanciamento.
    abraço
    marilda

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  3. A Clarice me dói e me aquece, assim como o Caio, o Érico, a Hilda, o Leminski, o 'Nítche'... e um catatau de outros palavreiros...buenacho!
    E então tá, seguirei os conselhos dos queridos: a qualquer custo (espaço,tempo e minha insegurança) continuarei a proposta. Espero que entrem (e saiam) coisas interessantes, e também, mais por conta de dar conta, que eu consiga ter mil olhos e mil ouvidos para falar com duas mil bocas através de um só cerebro, pois a dinâmica é um nó enquanto fluxo, apesar de parecer uma calmaria...o pequeno mar é revolto tb...;)
    Gracias!

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