Reflexões de um final de semestre - Marilda
Sobre o amor e docência. Percebo entre essas duas palavras, extremamente complexas, muitas aproximações. Vou tentar colocar aqui algumas ideias que tenho pensado para que sigamos conversando e aprendendo juntos a pensar, não o que eu penso, nem o que vocês pensam mas, talvez, outros pensamentos misturados aos de vocês e aos meus.
Acredito que, nós não nos apaixonamos por pessoas físicas, nos apaixonamos por situações, por formas de agir, por delicadezas, por afetos, por paisagens (nos apaixonamos por um conjunto de coisas). Sentimos-nos atraídos pelo mundo diferente que o outro nos apresenta, pois isso atiça o nosso imaginário e nos faz sonhar, fazer planos, idealizar situações, planejar encontros, viagens, passeios. Assim como também acredito que nós não nos apaixonamos inicialmente pela profissão, inclusive porque quando começamos um curso nem sabemos direito o que este curso significa, em que este curso consiste. Nos apaixonamos por situações desta profissão, por formas de agir de alguns profissionais que conhecemos, pelas delicadezas, por afetos...
O amor não é uma questão de ‘encaixe’ mas de ‘fluxo’. Antigamente (e para muitos ainda atualmente), o relacionamento era um estado permanente. Hoje (e há bastante tempo já) é um processo. O fundamental, para mim, não é o tempo que uma relação dura, mas sua potência e intensidade. (Que seja eterno enquanto dure, já dizia Vinicius de Moraes). Penso o amor como algo potente e agregador, não como falta. O amor como falta remete à popular ideia romântica de que o outro tem que nos completar, preencher e, de preferência, para sempre. Isso remonta à tese de Platão, de que somos seres partidos, incompletos, com a missão de encontrar nossa ‘cara metade’, nossa alma gêmea. O amor como potência, entretanto, evoca transbordamento e tem alta voltagem inventiva. Reconhece a dor da distância, a falta física, o desejo do outro, sente ciúmes, sensações inerentes aos sentimentos da paixão, mas diante delas reafirma a vida. Ou seja, em primeiro lugar, o cuidado de si, é importante estar de bem consigo mesmo para dar ao outro o nosso melhor.
Com a docência acontece o mesmo, ela não pode ser 'encaixe' e sim 'fluxo'. Não pode ser um estado permanente, mas ser construída em processo, todos os dias e com cada grupo de uma forma diferente. Com potência e intensidade. Como forma de agregar. Nós não vamos levar aos nossos estudantes o que lhes falta para que desta forma se sintam plenos, preenchidos, completos, mas sim causar-lhes transbordamento e de preferência em alta voltagem inventiva. Vamos sofrer embates enquanto relações afetivas, vamos discordar mas acima de tudo vamos reafirmar a vida, cuidar de nós para poder continuar dando o nosso melhor.
Desejo a tod@s com quem partilhei situações de aprendizagem este semestre um ótimo descanso e que possamos iniciar 2013 cheios de energia para produzir novos encontros.
Um forte abraço
Marilda
19/12/2012